Opinião
O exemplo de Luizito
Por Eduardo Ritter
Professor do Centro de Letras e Comunicação da UFPel
[email protected]
Luis Alberto Suárez, ou simplesmente Luizito, é uma inspiração não apenas para quem gosta de futebol, mas para todo mundo que precisa trabalhar para sobreviver. Digo isso porque ele claramente faz o que gosta e usufrui de cada dia de trabalho como se fosse um dia de lazer. Apenas esse fato já o colocaria em um restrito grupo de pessoas que trabalham com o que gostam. No entanto, ganhar milhões fazendo o que ama o coloca em um grupo ainda mais seleto, talvez representando apenas 0,001% da população que obtém milhões ao fazer o que mais lhe dá prazer. No entanto, esse não é o fato principal. O bizarro é que ele abre mão de ganhar ainda mais milhões para se divertir, caso contrário, não estaria jogando no sofrível time do Grêmio, como se estivesse disputando uma partida amistosa com os amigos no final de semana.
Suarez poderia estar em quase qualquer time do mundo. Certamente em uma centena de clubes que pagariam mais do que o Grêmio. Mas ele veio para a horrenda (segundo Camus) Porto Alegre para se divertir. O amigo Messi foi para Miami e o chamou para usufruir os prazeres da vida por lá, na paradisíaca Flórida. Sem problema nenhum, ele disse: "vambora!". E, assim, está partindo em 2024, para tristeza dos gremistas. Entretanto, mesmo estando acertado com o clube americano, ele segue jogando cada partida como se fosse a pelada do final de semana que eu, você e milhões de pessoas pagam para jogar. Desta forma, Luizito se diverte enquanto faz o torcedor gremista sonhar com um improvável título nacional.
Não sou Luizito, mas tenho orgulho de fazer o que gosto (e de viver disso). Escolhi, em primeiro lugar, o jornalismo. Antes de tudo sou repórter e aspirante a escritor. Essa minha paixão me levou à sala de aula e igualmente senti meu coração bater mais forte pela docência passando o pouco que sei para os alunos que têm um mundo inteiro a conquistar. Não ganho as cifras do Luizito, mas, de certa forma, tento me divertir como ele. Gosto dos papos sobre futebol antes de começar as aulas, de jogar uma sinuca vez em quando com a gurizada, de viajar para congressos mostrando as diversas possibilidades que temos para enxergar o mundo que vai muito além do que qualquer teoria da objetividade. Aliás, cada viagem é um aprendizado novo. Assim como, tenho certeza, cada partida disputada pelo Luizito é singular e única na sua carreira.
É com esse espírito, inclusive, que neste final de semana vou para Porto Alegre para dar uma conferida na Feira do Livro no sábado e assistir a um dos três últimos jogos de Luizito na Arena do Grêmio no domingo. Vou juntamente com minha filha, que tem na figura do Kanemann a principal referência do meio futebolístico - outro exemplo de sujeito que absolutamente ama o que faz.
Agora, no final de 2023, aos 42 anos de idade, se alguém me perguntar se eu faria algo diferente na vida se pudesse voltar no tempo, eu responderia: não! Faria exatamente tudo igual. Escreveria sobre bovinocultura, sobre sessões de câmara de vereadores, sobre a taxa Selic e outros temas tediosos para fazer o que gosto, que é escrever sobre as mais variadas histórias, seja através do jornalismo ou da literatura. Em síntese, sigo fazendo de tudo para aproveitar a minha vida e a minha profissão da mesma forma que o Luizito Suárez veio se juntar ao limitado, mas divertido, time gremista. Aliás, caso o uruguaio queira um desafio ainda maior para uma nova epopeia, basta dar uma passada pela Baixada. Não seria a primeira vez que a torcida Xavante conquistaria um coração uruguaio, e vice-versa.
Um bom final de semana a todos.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário